Em caso de emergência não chame o poeta

dezembro 10, 2008

Um jovem atropelado
gritava por socorro, por qualquer socorro
coitado.
O poeta atravessando a rua
se dispôs a ajudar-lo.

O jovem exclamava, arfava e suplicava
por uma ambulância, um remédio, sua mãe
o poeta embebecido pela cena
ajudava como podia, como cabia a sua poetude
ele dizia:

-Grite meu irmão homem!
Sinta seu desespero
sinta agora o apego por amigos, inimigos e afins
veja o seu sangue
os fragmentos dos seus ossos
a vida escapando pelos segundos
esse asfalto.

O Jovem atropelado esbabacido
não acreditava na loucura daquela situação
exclamava e arfava e suplicava
e nenhuma outra pessoa tentava o ajudar
nenhum outro cidadão
só restava o poeta
que com um caderno e uma caneta
pedia uma descrição:

– Me diga! Eu preciso saber!
Como se sente estar vivo antes de morrer?
Dê-me detalhes, os mais frios e íntimos
fale das dores, dos anseios…
Fale alguma coisa, homem!
Narre sua viagem!

O Jovem, já indignado
e irritado
tirou forças não se sabe da onde
levantou do asfalto
empurrou o poeta
pegou um taxi
e foi para o hospital.
Restou ao poeta imaginar sua morte.

One Response to “Em caso de emergência não chame o poeta”

  1. Tiago Says:

    Uma anedota poética. Singular.

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